quarta-feira, 30 de junho de 2010

Festejos juninos


Um raiar de felicidade

Eram crianças.

Crianças felizes. Matutas, caipiras. Umas acanhadas. Outras descontraídas. Todas esquecidamente ingênuas.

Na grande festa, havia casal de noivos apaixonados. Música animada, frio cortante, calor humano.

Meninas – chiquinhas – babados, bocas vermelhas, laços de fitas, olhos reluzentes.

Meninos – “jecas-tatu” – bigode, gravatas, chapéus, sorrisos. Teve de tudo: barraca de beijos (disputadíssima), de Quentão,de toda sorte de guloseimas: cocadas, pés de moleque, milho cozido,batata doce ,bolo de aipim.E assim todos esquecidos do “mundo lá fora”, das notícias, dos dramas, do computador, do relógio, dos assaltos do cotidiano, dançaram a “Quadrilha” sob a bênção do São Pedro, que era o santo que regia aquela noite de pura magia e felicidade...

Com saudade de um festejo que passei com amigos ,reproduzo uma das receitas que por lá saboreei:

  • Manuê (bolo de aipim ou mandioca)


1/2 kg de mandioca crua ralada e descascada
2 1/2 xícaras de leite de coco
1 côco ralado (ou um pacote grande de côco em flocos)
3 ovos
2 colheres (sopa) de manteiga
1 copo de leite
1 pitada de sal

Modo de preparo

Bater todos os ingredientes no liquidificador. Colocar em forma com furo no centro, previamente untada com margarina. Assar em forno médio por aproximadamente 25 minutos. Verificar se o manuê está pronto, espetando um palito que deve sair seco. Desenformar depois de frio.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Caracóis

Em dia de Portugal-Brasil eu vou torcer para que ganhe o melhor dos dois países presentes neste blog e deixar-vos aqui um bom petisco enquanto todos assistimos o jogo.
E que ganhe o melhor a zero-zero!





para ouvir ao som de Nick Cave - Into My Arms

Caracóis

por Ana Martins

Hoje não vou ler uma receita e criar personagens para escrever um conto. Trago-vos, em dia de jogo de futebol que os nossos dois países param - Portugal e Brasil no campeonato do mundo - um petisco que é naturalmente pedido num café para ver futebol com cerveja geladinha – um prato de caracóis. Trago-vos também uma memória que muito acarinho.
Em Portugal dividem-se as opiniões: é um petisco muito apreciado por muitos, mas que causa repugnância a outros. É mais usual ser apreciado a centro e sul. Já a norte, só a ideia, causa tal aversão que nem se pode pedir em qualquer café, restaurante ou tasca como no resto do país. É um petisco usual, acessível e muito apreciado que se come bem quente em qualquer esplanada no final da tarde com amigos regada de cerveja fresquinha e conversa boa.
A cada Primavera esperamos ansiosamente pela temporada dos caracóis. São muito amargos fora de tempo, sendo os bons meses o que não têm a letra “R” – Maio, Junho, Julho e Agosto. Aberta a época é ver mesas de café com uma roda de amigos em torno de copos vazios e pratadas de cascas de caracóis que foram vorazmente comidos e o molho sonoramente sorvido. E porque é um petisco que só se come entre amigos? Porque não há forma elegante de se comer caracóis! Os franceses debicam escargots com uma pinça e garfo próprios e fazem-no com alguma sobriedade. Por cá, mesmo as grandes caracoletas assadas, comemos à mão, quanto muito, com o recurso a um palito. Servido ainda fumegante, come-se sem talheres, com o molho a escorrer pelos dedos e sorve-se o líquido contido dentro das cascas e sim, com algum ruído. Sejamos francos… não se faz semelhante figura diante de um estranho… com os amigos habituais dos caracóis, estaremos naturalmente mais à vontade!
Recordo como os meus melhores companheiros de caracóis, os meus irmãos e meus avós. O grupo foi-se alargando a alguns amigos mais chegados e a certa altura de nossas vidas éramos um grupo firme nas habituais dez travessas de caracóis de cada vez que nos juntávamos para a petiscada. E estas pessoas estiveram – estão – sempre presentes nos momentos mais importantes da vida uns dos outros.
Recordo com ternura o dia de enterro do meu avô Chico numa aldeia longínqua perto da Serra da Estrela. O meu avô foi daquelas pessoas lindas que viveu todas as etapas da sua vida – e bem. Homem bom, amigo, juntou à sua volta muitos mais netos que aqueles que teve. Todos os nossos amigos o tratavam carinhosamente por avô ou por Xiquinho. Já viúvo e bem idoso ainda era o nosso maior companheiro de copos, de brincadeiras, de petiscadas – de vida.
Para nós, meninos da cidade, estranhamos os procedimentos de um funeral de aldeia como se de um filme antigo a preto e branco se tratasse. Das beatas, às carpideiras, tendo como ponto alto a caturrice do padre qual cacique local, que numa discussão sonora e desrespeitosa para com o meu pai na sacristia, audível em toda a igreja, poderia vir a tornar-se uma situação constrangedora, não fosse, para gáudio geral, o meu filho ainda pequeno afirmar à saída de meu pai e do padre da sacristia: “Boa, avô, defendeste o nosso Xico!!”
Foi uma morte serena no final da vida. Talvez por isso fosse tão aceitável ficarmos finalmente sem o nosso Xiquinho. Ficou num local alto no cemitério da aldeia, uma vista bonita. Tudo foi bonito na vida deste meu avô.
Um pouco incomodados com a atenção recaída sobre os meninos da cidade após o serviço fúnebre, todos nós netos e amigos, a geração mais nova, saímos de cemitério com a estranha sensação do Xico vir connosco. Vínhamos a pé pelo caminho a recordar momentos com o nosso avô e cada um se lembrava de detalhes engraçados e pitorescos. Nesse espírito, entramos num cafezinho contíguo e sentamo-nos na esplanada. Íamos apenas beber um café, continuar a conversa boa, mas o inconfundível cheiro a orégãos despertou-nos a todos. Caracóis? Já???, em Abril…!? Foi irresistível. Os primeiros caracóis do ano! Uma euforia apoderou-se de todos nós e desta feita nada com a senhora dona Gula… sorríamos, tolos, perante a simples constatação – o avô Chico!!! Estava mesmo connosco, ali ao lado, mas a sua inequívoca presença na convocatória para os primeiros caracóis do ano.

Receita de caracóis à Algarvia:

1 kg. caracóis de calibre graúdo
1 kg. caracoletas de calibre médio
sal (comedido, os caracóis já são salgados)
malagueta (a gosto)
cubos de bacon e chouriço
1 cebola
1 cabeça de alho esmagado
1 tronquinho de oregãos

Os dois truques básicos dos caracóis consistem em a) serem lavados muitas vezes sempre em água corrente e b) para que os caracóis fiquem com a cabeça fora da casca, a panela é colocada só com água ao lume, sempre em lume o mais baixo possível e apenas quando estiver a ferver se colocam os temperos. Depois de temperado a gosto, deixe cozinhar, ficando no tacho para apurarem pelo menos 2 horas. Pode pôr na mesa pão e manteiga para acompanhar ou para molhar no caldo delicioso dos caracóis. Serve-se bem quente e acompanha de cerveja bem gelada.
Nota: Se são caracóis de viveiro podem ser logo consumidos, mas se tiverem sido apanhados no campo, é aconselhável “pastá-los” durante uns dias. Colocados numa caixa com tampa perfurada, alimente-os com folhas de alface ou fruta de forma a limparem de possíveis ervas nocivas para que, quando cozinhados, não saibam mal.



terça-feira, 22 de junho de 2010

Sabores e dissabores





Fim de semana.Noite fria na serra.
Os amigos resolveram sair do hotel para jantar em um dos restaurantes.
A pedida era "Queijos e Vinhos".Houve quem sugerisse fondue (prato que também combinaria com o clima) o que houve aprovação geral.Quase geral...
Como em qualquer grupo ( há sempre um do contra)um deles discordou da sugestão dos demais.
Enquanto a maioria já se encaminhava para as mesas ,o turista solitário decidiu experimentar na casa vizinha a "Sugestão do chefe": Sopão a moda da casa.Sugestionado também pelo valor do referido prato, repetia em meio a risos maliciosos: _Nossos pratos tem sutis diferenças, principalmente no preço.O de vocês tem mais "zeros" do que o meu!...
No restaurante acolhedor( tinha até lareira!) o grupo se deliciava com o bom vinho,com a boa música e , é claro, com o fondue.Houve quem saborasse de carne; outros de queijo e ainda de chocolate num rodízio saudável de paladar e alegria.
Dia seguinte, todos se encontraram à mesa do café e comentavam a agradável noite anterior,quando um deles deu por falta do amigo que não lhes fizera companhia.
Dirigiram-se ao seu quarto e o encontraram abatido, indisposto e com visitas regulares ao banheiro...
Um dos amigos, contendo o riso, saiu-se com essa: _ Deve ter sido a diferença dos "zeros"!...
Ps.: Por motivos óbvios, não darei a receita do "Sopão ". Prefiro a que saboreei e sem dissabores :

Fondue de queijo

Ingredientes:
400 g de queijo gruyére ralado
200 g de queijo emmenthal ralado
1 dente de alho sem casca partido ao meio
1 xícara de chá de vinho branco
1 colher de chá de suco de limão
2 colheres de chá de maisena
4 colheres de sopa de leite
4 colheres de sopa de vodca
3 pitadas de pimenta do reino
1 pitada de noz moscada

Modo de preparo:
Esfregue o alho na parte interna de uma panela própria para fondue. Coloque o vinho e o suco de limão e leve ao fogo até amornar. Reduza o fogo,junte os queijos e mexa bem até começar a derreter. Adicione a maisena dissolvida no leite e continue a cozinhar, mexendo sem parar, em movimentos na forma de 8 para o queijo não ficar em ponto de fio.
Acrescente a vodca, a pimenta e a noz moscada e misture por mais dois minutos, ou até ficar cremoso. Transfira a panela para o fogareiro e leve à mesa. A fondue deve continuar a ferver. Sirva com pedaços de pão, de preferência os de casca dura, como o pão italiano.
Espete-os no garfo próprio para fondue e mergulhe no queijo.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pipocas com gosto de saudade




Em tempo de Copa do mundo volto no tempo. Campeonato Mundial em idos de 80 .

Revejo a sala de TV.

Os filhos (meninos de 9 e 10 anos) na companhia do pai e do padrinho deles (meu tio Waldenir) formando uma torcida fraterna e entusiasmada.

Enquanto não tinha início a partida, o tio dirigia-se à cozinha e preparava pipocas para a turma toda .Risos... Euforia... Expectativa. Um espocar de felicidade.

No intervalo era a hora do tio contar para eles, histórias de Copas passadas.E escalava times relacionando nomes de atletas e suas respectivas posições numa demonstração de incrível memória e paixão pelo futebol.Também pudera! Desde garoto mostrava intimidade com a bola.A princípio, nas peladas com bola de meia e mais tarde ( já mocinho) no time do lugarejo onde morava era um atacante de memoráveis vitórias.

E nesse clima de “sabor e histórias” a família se posicionava frente a TV.

Em umas das partidas o tio chegou cedo .Trazia nas mãos o recorte de um jornal com várias receitas de pipocas: pipocas açucaradas, pipocas com queijo, pipocas com bacon.Eram a novidade da época!

E quem disse que conseguiu convencer os meninos de experimentarem a “boa nova”? Protesto geral!Achavam que daria azar e sentenciaram :”Em time que está ganhando não se mexe”...

Os tempos são outros! Pipocas fazem parcerias com novos ingredientes e deixaram de ser consumidas somente no escurinho do cinema e em salas de famintos e fanáticos torcedores!


Pipocas diferentes

Pipoca com sorvete e calda de caramelo:

- 1 xícara (chá) de açúcar
- 5 colheres (sopa) de água
- 2 xícaras (chá) de creme de leite fresco
- 5 xícaras (chá) de pipoca pronta
- Sorvete de creme

Pipocas coloridas:

- 8 xícaras (chá) de pipoca pronta
- 1 xícara (chá) de açúcar cristal da cor desejada
- 1/2 xícara (chá) de água

Pirulito de pipoca:

- 6 xícaras (chá) de pipoca pronta
- 1 xícara (chá) de açúcar
- 4 colheres (sopa) de glucose de milho
- 150g de margarina
Pipoca com sorvete e calda de caramelo:

Numa panela alta, leve ao fogo o açúcar e a água. Deixe engrossar
até ficar na cor caramelo. A parte, esquente o creme de leite e
misture à calda. Vai ferver. Abaixe o fogo e deixe engrossar
durante mais ou menos 5 minutos. Jogue a calda sobre as pipocas
prontas e junte ao sorvete de creme.

Pipocas coloridas:

Numa panela, coloque o açúcar cristal colorido com a água, mexa
para misturar e leve ao fogo alto por 6 minutos aproximadamente,
até formar uma calda pouco espessa. Teste, retirando um pouco da
calda e apertando entre os dedos. Conforme for esfriando deve
"colar". Cuidado para não se queimar. Coloque as pipocas numa
forma e vá despejando a calda de açúcar colorido, mexendo sempre
até açucarar.

Pirulito de pipoca:

Num refratário, espalhe a pipoca pronta. Numa outra panela, junte
o açúcar, a glucose e a margarina. Leve ao fogo por mais ou menos
10 minutos ou até atingir o ponto de caramelo ralo. Retire do
fogo e despeje quente sobre a pipoca. Misture bem com a ajuda de
dois garfos. Espere esfriar um pouco e modele bolinhas. Coloque
um palito de churrasco no meio das bolinhas enquanto modela.
Deixe esfriar e decore a gosto.

Sopa de Urtigas


para ler ao som de O'queStrada - Qualquer coisa me anima

Sopa de Urtigas
por Ana Martins

Era desta que ia cozinhar à revelia. No domingo a sua santa sogra vinha à cidade visitar o seu menino. Naturalmente Sandro convidara-a, pelo que viria a sua casa almoçar, inspeccionar onde e como andava o seu menino a ser tratado. Pouco importava as virtudes de Cláudia, a dona Anabela (perdão… Madame Bell) teria sempre que apontar, mesmo à distância, fosse na terrinha ou no início de viverem juntos, quando a santa ainda trabalhava lá na sua França.
Apetecia-lhe tanto cozinhar para a sogra como respirar vidrilhos em arroubos de veraneio, mas o olhar abrandado do filho, o também seu Sandro, fizeram-na anuir apesar de se corroer tão vitrinamente. Para se aquietar, pensou num ingrediente que sabia comestível e nunca tinha experimentado confeccionar. Contudo, seria o local mais simpático onde gostaria de sentar o traseiro anafado da madame sua sogra no almoço de domingo.
Diziam as eruditas comadres que se cortasse as cebolas debaixo de água de chuva não seria acometida de lágrimas salgadas ou se pedisse autorização à natureza as urtigas não lhe morderiam as costas das mãos mas, mais prudente, Cláudia resolveu-se por um chapéu de palha, luvas de jardinagem e uma antiga cestinha de vime e, qual capuchinho vermelho, seguiu pelo caminho proibido da floresta.
A receita era simples e o truque gastronómico na assadura. Em honra do nome que dona Anabela, a senhora sua sogra adoptara depois de regressada na petulante Madame Bell, tinha apanhado umas flores em forma de campainhas, que colocou suavemente ao empratar o cálido caldo.
Já de crianças ouvíamos que o crime não compensava, nem sequer as pequenas malvadezas infantilizadas como servir uma sopa de urtigas à sogra. A punição que Cláudia nunca comentava, porém mortificava-se, a cada vez que o seu Sandro lhe pedia que fizesse a sopa que adoptara como favorita, era incomensurável.

Receita:
(gostava da candura como lhe fora passada)

água da chuva q.b.
cebola nova
Assa-se a cebola no forno com uma pitada de sal, pimenta rosa e um fio de luar de azeite. Depois de assada, coloca-se numa panelinha ao lume com da água da chuva e deixa-se cozer. Lava-se muito bem as urtigas, tempera-se com umas gotas de lágrimas se houver picadelas e coloca-se dentro da sopa. Passa-se tudo em remoinho como a vida e retempera-se. Sirva cálida.

(receita gentilmente cedida pelo Restaurante Bem Me Quer Vegetariano)



sexta-feira, 11 de junho de 2010

Almoço de Verão

Depois da simpática Walnize entrar neste blog a semana passada, surge agora o convite do outro lado do Atlântico da Ana Paula Motta, e eis que entro eu - e se estou de chegada, começo com uma memória de partida.


para ler ao som de Imogen Heap - Hide and Seek


Almoço de Verão

por Ana Martins

Os dias quentes de Verão estão de partida. Os quentes de sufocar, de pedir para dormir ao relento por não aguentar o calor dentro das paredes numa casa que não chegava a arrefecer. Dormir no jardim com os irmãos, reclamar das picadas de melgas, tagarelarmos e galhofarmos até cada um adormecer de cansaço. Nenhum dava conta da mão materna que tapava com desvelo cada ombro desnudado.
Hoje não há noites abrasadoras de Agosto. Sol no Inverno chuva no Verão. Há dias que temos as quatro estações reunidas no mesmo dia. Nem é tão linear ser absolutamente impensável uma boa feijoada nos dias que seriam quentes ou uma colorida salada nos supostamente frios. O mundo gira e transforma-se perante os nossos olhos - nada é estanque, tudo é global - como um jogo infantil de escondidas quando não somos mais crianças, nem temos vontade de brincar.

Hoje, sendo o meu primeiro post neste blog saboroso, trago-vos não um conto, mas uma refeição completa:
Uma salada
de base de cuscus e feijão frade (ou grão de bico) onde se junta alguns sabores em cru bem marcantes e diferenciados como aipo, pimento, cebola, kiwi (ou abacaxi), gengibre e malagueta (se gostar de apimentar a vida). Tempera-se simplesmente com sumo de lima, coentros picados e cominhos. Eu gosto de acrescentar hortelã, alfazema, bagas goji e sementes de papoila.
Um gelado
de nata, podendo ser de compra ou caseiro. Eu bato, para uma lata de leite condensado, 2 a 3 pacotes de nata, vá lá, pode ir até 4, se forem mesmo gulosos. Gosto da consistência e intensidade. Mas mesmo os mais gulosos enjoam este gelado caseiro se não tiver uma boa calda que, por outro lado, consegue transformar uma simples embalagem de gelado de nata de supermercado numa sobremesa gourmet. Para esta proporção de gelado, junte açúcar a gosto a 1/2 kg. de morangos (dos pequeninos e bem doces, não vale a pena fazer com os que parecem enxertados em cortiça com esferovite...) e esmague num almofariz ou - de uma forma menos romantizada e mais prática - com a varinha mágica. Eu gosto de adicionar umas folhas de hortelã fresca. Verta a calda de morango sobre o gelado de nata e tente não fazer essa cara tão voluptuosa ao saborear.
Um cappuccino gelado
Existem máquinas de cápsulas no mercado, mas deixo-lhes um bom truque que faço para o conseguir mais cremoso. A cada cápsula, a de leite e a do café específicas para o Cappuccino Ice, o fabricante recomenda a posição na máquina de água fria e juntar pedras de gelo. Eu gosto de gelo lascado ou moído (não fica tão pesado na bebida) e o truque é rebentar a cápsula com a posição na máquina de água quente e só depois mudar subitamente para frio. Para as duas cápsulas. O choque térmico produz uma espuma apetitosa. Se deixar a arrefecer um pouco (com o gelo) antes de o beber, as camadas que se vão desenhando nos vários tons de café com leite produzidos, são de uma tão grande beleza que recomendo seriamente um copo ou chávena de vidro.




terça-feira, 8 de junho de 2010

Plantão de cozinha




Era de praxe.Não tinha como escapar.E qual das moças casadouras (já noivas) assim não o desejavam?

E comigo não foi diferente.Segui o ritual como mandava o figurino da época.Já de argola dourada no dedo anelar da mão direita era hora do plantão de cozinha,ou seja, aprender com a mãe "a arte de cozinhar" ouvindo quase como mantra a sua fala diária:"homem se prende pela boca ".

E lá fui eu ,a primeira aluna inscrita ( das três irmãs, a que se casou primeiro)para o "cursinho".Na primeira semana era só para olhar,ouvir dicas e anotar no caderno de receitas(o tenho até hoje).

Já na semana seguinte...aula prática! A mãe deixava a aluna a sós entre panelas e expectativa.Expectativa das grandes, pois a família só se sentava à mesa quando era anunciado:"Tudo pronto! podem vir!"e tudo dava certo! Uma semana todos alimentados pelos pratos triviais que iam desde feijão temperado com louro, arroz soltinho, legumes variados e carnes.Confesso que aprendi( a duras penas) fazer até "galinha ao molho pardo" com o segredo inesquecível: _ Para não talhar o sangue, vinagre ou limão!...

Mas,saibam ,meu carro chefe é a "carne assada ao molho madeira" que até hoje recebe o hum! de aprovação dos de casa.

Carne Assada

1 k de lagarto ou outra carne da preferência
2 cebolas grandes
2 dentes de alho
sal
louro (opcional)
1 copo de vinho tinto
óleo

Tempere a carne com alho picado, doure a cebola com o óleo, junte a carne e deixe dourar até ficar marrom, só aí pingue um pouco d`água. Junte o sal o vinho, o louro e cubra com mais água.Leve a cozinhar na panela de pressão por cerca de 30 minutos.
Acerte o sal,deixe apurar o molho e sirva,acompanhada de batatas (pode deixa--las corar no molho).


Biscoitos de Alfazema, sabor de primavera

Recebi do outro lado do Atlântico, onde é primavera, um cheirinho não de alecrim como a canção do Chico, mas um olor de alfazema, dalgum canto de jardim.
Convidei minha amiga Ana Martins, para que me enviasse um conto com de primavera, e não satisfeita, a receita também cheira à estação das flores.


para ouvir ao som de Amelie - Soir De Fete

Bolachinhas de Alfazema

Escrevia quando a fresca da tarde lhe traz os odores da zona das aromáticas. Levanta a cabeça do teclado, inspira com tranquilidade deixando os ombros cair, mas já se distraiu do texto ao se deixar inebriar. Erva-príncipe? A menta. Predomina. Aquela personagem não está a fazer sentido. Prime a tecla ‘guardar’ e fecha o portátil. Apanha quatro folhas escuras

de menta e escolhe três de hortelã. Gosta de as misturar. Volta atrás e escolhe outra folha de hortelã bem pequena que limpa rapidamente entre indicador e polegar e coloca-a na língua. Gosta de mastigar ao preparar o seu chá de sete folhas. Enquanto repousa e o sabor abre, volta ao jardim e apanha uns pezinhos de alfazema e apanha dois bons limões. A sua neta chega e gosta de ter as bolachinhas para mordiscar. Não usa receita nem medida, apenas uma boa mão. A neta costuma fazer lá no restaurante dela, e apesar de se venderem mais pacotinhos que pãezinhos quentes, reclama de não serem as bolachinhas da Avó Flora, que as faz a olho e saem sempre perfeitas.
Derrete a manteiga de soja e liga o rádio da cozinha. Sorri. Está a passar a música de um filme. Gosta desse filme, a actriz faz-lhe lembrar a inquietude da sua neta. Procura o ralador. A raspa dos limões do quintal tira-a do sério. Demora sempre a fazê-lo para se deixar embalar na frescura do óleo aromático, a que fica espalhada pela cozinha. Agora faz sempre com frutose, a médica não a incomoda. Mete a mão na lata e tira um punhado de farinha, depois outro. Só até engrossar. Gosta de amassar à mão, é repousante, lava a alma - dizem - e ajuda a fermentar. Doem-lhe as pontas dos dedos de tanto teclar. Volta a pensar na sua personagem. Aquele conto está a sair-lhe difícil, poderia dar à senhora uma infância boa na Provença rodeada de campos anil de alfazema. Pôr os pais dela a emigrar. Sim, poderia funcionar como o seu escape, em adulta já regressada a Portugal e entregue à brutalidade do marido. Seria uma forma de conseguir dar sentido à sua personagem. Três flores de alfazema. Quatro, quanto muito. A regra era nunca usar muitas. No forno intensificava-se o sabor e as bolachinhas ficariam intragáveis. Alfazema. Isso mesmo! Assim que coloca o tabuleiro do forno volta a ligar o portátil.

Receita:

6 colheres de sopa de manteiga de soja
1 colher de sopa bem cheia de frutose
raspa de 2 limões
100 grs. de farinha
1 colher de sopa de flor de alfazema


quarta-feira, 2 de junho de 2010

Convite açucarado


Eis que me surge o convite vindo de Ana Paula Motta para fazer parte deste saboroso blog. Digo saboroso a começar pelo seu título. Quer coisa mais aconchegante de ouvir histórias recheadas de puro mel ? Então começo com uma delas, em que envolve um dos meus ancestrais: meu avô materno.

Domingos de outrora

Walnize Carvalho


Eis que me ponho em crônica andarilha e sobre os trilhos de um trem viajo para um povoado. Distrito do município. Santo Amaro. Terra de meus avós.
Em minha memória afetiva espio pela janela do tempo. Vejo como a passar por mim (e a me sorrir também) velhas casas e centenárias árvores. E, naturalmente, os canaviais na beira da estrada, que emolduram o cenário.
Chegada a Santo Amaro. E antes que o lugarejo desapareça na realidade de seu abandono (só é visitado nas festas do Padroeiro) trago-lhe neste registro.
A alegria incomum (comum na menina do cacho dourado) toma conta da passageira do túnel do tempo.
Na porta da venda, meu avô materno Domingos. O “Domingos da venda”.
Sua imagem surge com nitidez perfeita em minhas lembranças.
Homem alto. Sério. Um bigode expressivo comum aos homens nos tempos idos. Atrás dele escondido um sorriso escasso no canto da boca. E no coração um transbordar de benevolência.
“De sua venda ninguém voltava de mãos vazias” atestam os que com ele conviveram no dia-a-dia. Daí o “fiado” ter-lhe trazido certo desconforto material.
Homem rico de generosidade, mas contido em gestos de afetividade física. (Não colocava netos no colo e respondia-lhes ao ser tomada “a bênção” com um “Deus te abençõe”, secamente).
Mas, a minha mente sintonizando no passado o “botão ternura” registra um fato incomum, mas inesquecível. Viagem de volta à cidade.
Sentada estou, distraída, no banco do trem e eis que meu avô Domingos surge na janela, sorriso largo, e oferece-me um picolé.
Doce e refrescante SAUDADE...

Picolé de abacaxi

1 lata de suco concentrado de abacaxi(pode ser laranja, tangerina, maracujá)
1 lata de leite condensado
1 lata de creme de leite

Bata no liquidificador o leite condensado, mais a latinha de suco concentrado e o creme de leite
Despeje a mistura em forminhas de picolé, de gelo ou em saquinhos plásticos e coloque no freezer
Espere duas horas e estará pronto
Esta receita é ideal para as férias escolares, para entreter a criançada
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