quinta-feira, 29 de julho de 2010

Soufflé de Peixe de Minha Mãe Menininha

Hoje não escrevo um conto, mas outra memória doce de minha infância. Não fui capaz de criar personagens em torno da receita de soufflé de peixe, simplesmente porque há pratos que estão presos nas melhores recordações da minha infância a pessoas que me foram - são - muito queridas e já não estão comigo.


para ler ao som de (versão linda)
Bethânia, Caetano e Dona Canô cantam Oração da Mãe Menininha


por Ana Martins

Na época de minha mãe era uma receita inovadora e chique. Depois da revolução de Abril, as donas de casa em Portugal saiam um pouco fora dos cozinhados habituais de suas mães, tias e avós e inovavam com receitas importadas. Muito moderno! Um mundo novo esperava-nos e a minha mãe, que só cozinhava ao fim-de-semana, gostava de inovar!
Um prato que abraçou foi o soufflé. De origem na culinária francesa (que significa inchado ou soprado) e que amiúde nos reunia, à minha irmã e a mim como suas ajudantes. Era um momento sempre bom, o de cozinharmos juntas, de ficar na memória a guerra prazeirosa e eterna de quem rapava a taça de massa de bolo cru. Ainda hoje quando cozinho prefiro esse momento e o de encetar um bolo quente saído do forno que o de festa propriamente assim considerado. Nota mental para perguntar a minha irmã se também pensa assim. Quem sabe, se nossa mãe não tivesse morrido tão nova, as minhas memórias poderiam ter crescido.
Tenho os dias de soufflé em boa conta, eram refeições de festa! Apesar de fazer de variados sabores, o de peixe era o meu preferido. Talvez por ser a única forma de conseguir comer peixe a saber a bolo. Já mãe, consegui que o meu filho pedisse com vontade bolo (de peixe) à refeição, porque é esse o segredo do soufflé: o aspecto fofo e volumoso que dá água na boca. Consiste apenas na forma adequada de bater os ovos – as gemas bem batidas adicionadas uma a uma e no final quando se acrescenta as claras em castelo bem firme. Um bom truque é acrescentar uma pitada de sal fino às claras que ajuda a ficarem no ponto.
Complicado? Não, basta saber fazer um bom molho Bechamel (manteiga, farinha e leite) adicionar o peixe cozido bem desfiado e os ovos, como disse, gemas uma a uma e as claras em castelo. 20 minutos de forno a 200 graus numa forma redonda e alta bem untada e enfarinhada. Servir logo de seguida com salada verde. Ter cuidado com possíveis correntes de ar. O soufflé irá baixar naturalmente (por isso a imposição de o servir logo), mas se apanhar ar, murcha de forma tristonha.


Ingredientes:


200 grs de peixe branco cozido e desfiado
50 grs de manteiga
50 grs de farinha
1 chávena de leite
4 ovos
Sal, pimenta, noz moscada e sumo de limão q.b.





terça-feira, 27 de julho de 2010

Uma receita de vida


Meu pai(escritor Waldir Carvalho)se vivo fosse, completaria 87 anos hoje.
Autor de romances,novelas radiofonizadas,contos,poesias e livros da História de Campos revela o seu começo neste fragmento de texto seu.

 Nhanhá contava histórias-Waldir de Carvalho

“Era uma espécie de segunda mãe que tive.Vivia em uma casinha de palha acolhedora. Era um contadora de histórias. Nas horas de folga contava com riquezas de detalhes e natural suspense “ estórias de príncipes” , como ninguém. Sabia os “ contos da carochinha “ de cor , embora não soubesse ler . 
Nhanhá pitava cigarro de palha .Em noites de luar, quando estávamos no terreiro de casa descascando milho em mutirão com os vizinhos ela vinha nos ajudar. 
Estou certo que ela com seus contos,seus cantos e suas danças foi quem me fez despertar para as letras."

Completo com receita simples de um prato que ele sempre disse ter "gosto de infância" 


Papa de Milho

Ingredientes

1 l de leite integral
5 espigas de milho verde raladas
5 colheres de sopa de açúcar
1 pitada de sal
Canela

Modo de Preparo

1.Bater no liquidificador por aproximadamente 10 minutos as espigas raladas, o leite o açúcar e o sal
2.Depois de bem batido coar essa mistura e levar ao fogo sempre mexendo até engrossar
3.Após esse cozimento colocar em tacinhas e salpicar a canela
4.Se preferir frio levar na geladeira por 1 hora ou pode comer quente.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Um feliz aniversário com sabor de infância


Clique na imagem para acessar o cartão

Para trazer a infância de volta no dia dos teus anos.Feliz aniversário!!!

Bolo de chocolate molhado

Ingredientes:
2 chávenas de farinha de trigo
2 chávenas de açúcar
1 chávena de leite
6 colheres de sopa cheias de chocolate em pó
1 colher de sopa de fermento em pó
6 ovos


Modo de preparação:
Bata as claras em neve, acrescente as gemas e bata novamente, coloque o açúcar e bata outra vez. Depois, aos poucos, junte a farinha, o chocolate em pó, o fermento e o leite. Bata para uniformizar.
Untar um tabuleiro e leva a assar por aproximadamente 40 minutos em forno médio.

Enquanto o bolo assa, faça a cobertura com 2 colheres de chocolate em pó, 1 colher de margarina, meio copo de leite e leve ao fogo até começar a ferver. Espalhe po cima do bolo ainda quente.

Acompanha com um chá…ao gosto e escolha de cada um!

sábado, 24 de julho de 2010

Miss Imperfeita

Hoje coloco um texto de uma colega escritora que muito gosto.
E depois uma receita simples. Bem simples.




para ler ao som de

Resistência (ao vivo) - A Noite

Miss Imperfeita

por Martha Medeiros - Jornalista e Escritora

«Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, marido (se tiver), telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação!

E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.

Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora.

Você é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada.

Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala.

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo para sumir dois dias com seu amor.

Três dias…

Cinco dias!

Tempo para uma massagem.

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas.

Voltar a estudar.

Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o baton da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante.»

Uma receita simples

Acontece-me frequentemente perder a hora se estou a ler ou a escrever. Uma refeição usual quando não se tem vontade ou tempo de cozinhar é comprar frango de churrasco. É acessível, rápido, saboroso e até indicado para quem esteja de dieta (sem a pele estaladiça, bem entendido).
Créditos da foto é do Blog Amigo Cozinha da Risonha)

Em Portugal existe uma receita bastante simples e popular (de nome bastante homófobo) por se introduzir um limão e um caldo knorr na extremidade do frango - e é apenas isso que se faz.
Há algumas variantes, uma vez que as pessoas gostam de improvisar e esta receita já é antiga, por vezes encontra-se o exterior esfregado com alho esmagado, margarina e colorau, mas o limão é o requisito necessário que dá o toque de diferente para assar este frango no forno.



terça-feira, 20 de julho de 2010

Desejo coletivo


Desejo coletivo

Walnize Carvalho
O telefone tocou.
Parentes próximos convidavam para uma ida à casa de veraneio. Farol de São Thomé.(50km de distância da cidade). Ficariam todos entregues ao prazer do bate-papo junto à piscina com direito a carnes na churrasqueira, música, sol, descontração. E, quem sabe, ao cair da noite avistariam no céu lua cheia e estrelas...
Bolsas e sacolas foram arrumadas apressadamente.
Já no carro, entre conversas e risos, foi sugerido algo diferente para “animar a festa”. A começar pelo cardápio, a idéia seria preparar uma comida bem caseira:
- Uma galinha caipira ao molho pardo! – falou alguém que de há muito não preparava tal iguaria, mas sabia “dar conta do recado”.
Foi a conta de deixar todos com água na boca e partir em busca do galináceo.
Passou a ser um desejo coletivo, o manjar dos deuses.
Pararam em armazéns, quitandas, abatedouros, aviários. Esmiuçaram quintais. Mas qual?!... A famosa caipira não era encontrada.
Avistaram na estrada uma delas desfilando com a sua prole. Mas de onde vinha? Quem seria sua dona? Estaria posta à venda?
Alguém sugeriu: - Se atropelarmos,vamos socorrer a vítima!
Reprovação geral.
Outro argumentou: - Quem sabe voltarmos à cidade! No Mercado Municipal encontraremos.
Aprovação geral.
Da estrada mesmo retornamos. E na feira livre encontramos o almoço do sábado.
Descemos do carro na residência mais próxima dos que ali estavam .
E...mãos a obra! No fim da tarde o desejo coletivo foi satisfeito.
A noitinha chegou.No céu esquecidos,lua e estrelas.

Receita de galinha caipira ao molho pardo
Ingredientes:
•1 galinha grande de 3 kg aproximadamente
•2 folhas de louro
•1 molho de cheiro verde
•Tomates sem casca e sem sementes
•1 à 2 cebolas
•½ cabeça de alho
•6 batatas grandes
•Sal e pimenta do reino
•Óleo (o necessário)
Modo de preparo

•Mate a galinha.
•Tire toda a penugem e passe um esfregão com água e limão
para retirar a gosma das juntas.
•Coloque num prato fundo ou pote vinagre com sal.
•Depene o pescoço da galinha e faça ali um corte para extrair o sangue.
•Deixe o sangue escorrer para o pote de vinagre e sal.
•Mexa para não coalhar e
reserve.
•Corte a galinha em pedaços, o peito em quatro, por exemplo, e tempere com sal e pimenta do reino.
•Deixe descansar um pouco.
•Em uma panela grande, de preferência de barro, coloque um pouco de óleo, alho socado e cebola picada.
•Deixe alourar.
•Acrescente o louro, o cheiro verde e o tomate bem picado.
•Coloque a galinha para cozinhar nesse refogado.
•Acerte os temperos.
•Descasque as batatas e corte-as em quatro pedaços.
•Cozinhe-as em água e sal em uma panela separada.
•Reserve.
•Quando a galinha já estiver bem cozida, adicione as batatas.
•Depois, despeje o sangue por cima e mexa os ingredientes sacudindo a panela pelas alças, ou pelos dois lados, de baixo para cima.
•Deixe cozinhar por mais alguns minutos e está pronto.
•Sirva com arroz branco e uma farofa feita na gordura de toucinho cortado
miudinho.
Dica

•Se preferir, é claro, compre a galinha e peça no frigorífico o sangue para fazer o molho pardo.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Abobrinhas




Abobrinhas

Walnize Carvalho

Quem nunca, na calada da noite, acordou com fome, abriu a geladeira em busca de algo para comer? E olha daqui, espia dali, destampa depósitos, abre gavetas e não encontra nada que a satisfaça. Já está prestes a desistir quando sai catando ovo, cebola, temperinho verde, sobras de arroz, um bife ou uma coxa de galinha... Surpresa! Lá no fundinho, em recipiente hermeticamente fechado, encontra o restante de saborosa feijoada do dia anterior. E cheia de gás, abre o fogão e de frigideira em punho começam “os trabalhos”. Refoga ingredientes e criatividade. Em minutos está pronto o famoso “mexidinho” - o aplacador de fomes noturnas! Dizem que em Minas é conhecido por “Restô di ontê”
E assim, mesmo os que por aptidão, por prazer ou até por necessidade militam na “arte do bem cozinhar” usam destas artimanhas e criam pratos saborosos – “manjar dos deuses” – dirão alguns.
Há os que por contentamento e humor dão nomes às suas iguarias deixando sua marca registrada. Daí terem surgidos: Vaca atolada, Baião de dois, Roupa velha (feita de charque ou sobras de carne assada frita com farinha de mandioca),Tutu de feijão, Bife a cavalo, Atolado de bode, Leitão a pururuca... Num fast food de lembrança surgem a pizza na pedra, o peixe na telha... Como esquecer, no tocante a doces, do pé de moleque,do puxa puxa, do quebra queixo e do bolo “amarra marido” do caderno de receitas da vovó?
Eu, particularmente, gosto de cozinhar o trivial e dar apelidos aos atos de criação: Arroz “metido a besta”; Arroz “unidos venceremos”; “Grude estranho”, “Ensopado Transformista” (no almoço é ensopado; no jantar vira sopa)... Mas, meu carro chefe - o “queridinho” dos filhos e netas - é o feijão da vovó (cujo segredo são duas folhinhas de louro)...
Claro que também aprecio iguarias bem feitas ,os prazeres da boa e requintada mesa(principalmente em restaurantes). Mas detenho-me aqui em citar pratos bem mais conhecidos que contêm denominações: Bacalhau ao Zé do Pipo, Churrasco à Osvaldo Aranha, e outros de paladar inigualável.
E, em meio a tantas abobrinhas, elas – verdadeiramente - não podem ficar de fora: abóbora de pescoço, abobrinha verde com ovos estrelados...
Deu fome? Em mim também!
Bom apetite!


Abobrinhas com Camarão

4 unidade(s) de abobrinha
100 gr de camarão sete barbas
200 gr de pescada branca em cubos médios
1 talo(s) de salsão (opcional pode ser substituído por alho poró/francês)
1 folha(s) de louro
2 kg de tomate maduro(s)
quanto baste de miolo de pão
quanto baste de salsinha
quanto baste de sal
quanto baste de pimenta-do-reino branca
2 dente(s) de alho picado(s)
Corte a ponta das abobrinhas e faça um buraco no centro (cuidado para não atravessar o outro lado). Reserve a abobrinha, o talinho de polpa retirado e as pontas. Bata os tomates no liqüidificador com um pouco de água. Numa panela, esquente o azeite. Adicione o salsão ou alho francês/poró, a folha de louro e a polpa da abobrinha picada. Refogue. Acrescente o tomate batido e cozinhe até formar um molho encorpado. No processador, bata bem o peixe, os camarões a salsinha e o miolo de pão. Coloque a mistura numa tigela e tempere com sal e pimenta do reino. Recheie as abobrinhas e , depois, feche-as com as pontas reservadas, utilizando palito de dente para firmar. Passe o molho de tomate pela peneira, para deixa-lo mais liso. Retorne o molho à panela, adicione um pouco de água e junte as abobrinhas recheadas. Cozinhe por 20 minutos em fogo brando com a panela tampada. Sirva as abobrinhas cortadas e regadas com o molho. Acompanhe com arroz branco ou macarrão.

domingo, 11 de julho de 2010

Felicidade Clandestina




Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com sua letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingan ça, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de ca belos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me subme tia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía as Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro pra se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente cor rendo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era meu modo estranho de andar pelas ruas do Recife. Dessa vez nem cai: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nem uma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefini do, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivi nhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mes mo, às vezes eu aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas, houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A se nhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sem pre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só pra depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
As vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.

(em Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector)

Quer felicidade mais clandestina que apaixonada por doces, ser impedida de comê-los e mesmo assim atacar uma fatia de bolo de chocolate?
Aqui no meu trabalho uma estagiária trouxe um maravilhoso e leve bolo de chocolate, que não leva farinha, mas nem por isso engorda menos.

Bolo leve de chocolate

6 ovos
100g de amendoim torrado e moído sem peles (na receita original era côco,mas nas comprar achei esse amendoim já torrado e moído e ficou mais gostoso, vou experimentar também com nozes ou amêndoas)
2 colheres de margarina
6 colheres de açúcar
6 colheres de chocolate
1 colher sopa de fermento em pó

Bate-se tudo no liquidificador. Leva-se a assar.
Cubra com brigadeiro mole ou calda de chocolate. O meu foi feito com calda de chocolate e amendoim.
P.S. A pedido da Ana Martins explico como se faz o brigadeiro mole:
Numa panela mistura-se uma lata de leite condensado, 1 colher de manteiga, duas colheres de sopa de chocolate e  1/4 da medida da lata de leite. Leva-se a ferver por cerca de dez minutos e está pronto.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Entre tapas e besos



Lembro-me bem do evento. “Niterói – Encontro com Espanha” foi o grande mote cultural que dominou neste abril de 2006 por aquelas plagas.
Viajei pela Espanha passeando em Niterói. Vivi o mês inteiro entre tapas (tira-gostos da culinária espanhola) e besos (beijos) das queridas netas que por lá residem. Dividida entre afeição e cultura.
Mais de 200 eventos democratizaram o acesso à cultura, uma vez que a gratuidade foi o passaporte à vasta programação.
Visitei em um piscar de olhos: Cataluña, Andalucia, Galicia, Madri, Barcelona, Oviedo, Salamanca, Sevilha, Santiago de Compostela, Zaragoza ... .
Embalei-me com músicas de variadas épocas e estilos como jazz, blues, boleros, chotis madrilenos tocadas por guitarras, baixos, violões, acordeons, pianos, flautas, saxofones, gaitas nas apresentações de cantores e instrumentistas de alto quilate.
Encantei-me com danças flamencas, balés clássicos, cujos dançarinos de renome faziam de seus sapateados e castanholas um espetáculo à parte.
Assisti com atenção e prazer filmes do consagrado diretor Carlos Saura e do cineasta de maior projeção no cenário internacional atual – Pedro Almodóvar.
Extasiei-me ao visitar exposição do gênio catalão Joan Miró. Indescritível.
Orgulhei-me em assistir a neta mais velha (Giulia) apresentando-se como contadora de histórias com o texto “Camilon, Comilon”.
Literatura, teatro, folclore, artes plásticas, palestras, fóruns, oficinas e e principalmente degustei com prazer a culinária espanhola. Momentos que preencheram corações e mentes dos que estiveram (como eu) oportunidade de por lá estar.
Agora, nessas relembranças escrevo com a certeza de que o banho de cultura encharcou-me de alegria.
No mais, é retomar as touradas do dia-a-dia. Olé!



Tapas
- Baguete ou pão italiano (dormido)
- Alho
- Ervas picadas
- Manteiga temperada

Sugestões de coberturas:

- Frios: presunto, copa, salame, embutidos em geral
- Queijos: mussarela, provolone, emmenthal, cheddar
- Outros: bacalhau, salmão, camarão
- Pastas: azeitonas, mostardas, rúcula, tomate seco ou monte
de acordo com suas preferências

Sugestão de tapas tradicional:

Numa torrada, esfregue alho, tomate e azeite.

Molho alioli:

- 10 dentes de alho batidos no liquidificador com um pouco
de azeite
- 100 g de batatas amassadas e temperadas com sal, pimenta
e azeite
- 40 ml de azeite
- 1 colher (sopa) de maionese

Modo de Preparo


Corte em fatias de 1,5 cm a 2cm da baguete ou do pão italiano
dormido (guardado na geladeira dentro de um saco plástico).
Pincele cada fatia com manteiga em temperatura ambiente,
temperada com alho amassado, ervas picadas e queijo parmesão
ralado.

Faça um molho com cream cheese, mel, sal e pimenta e passe nas
fatias ou utilize a cobertura a gosto.

Molho alioli:

Misturar todos os ingredientes.



sábado, 3 de julho de 2010

Lassi de manga e uma história de noites de luar



Se conheceram em um lugar cheio de gente e logo ao primeiro olhar ele enxugou as lágrimas dela, que andava numa fase de grande tristeza.De um dia para outro tornaram-se melhores amigos.

Gostam das madrugadas, trocam confidências e coincidências mas também divergências. Ela acredita em histórias fantásticas e finais felizes, ele vive de pés na terra.

Quando estão felizes se procuram para compartilhar,se estão tristes também. É nele que ela pensa quando no meio de um dia cansativo tem vontade de ir ao cinema. É nela que ele pensa quando ouve uma música diferente e quer alguém para ouvir junto.

Dividem sorrisos,lágrimas e noites de luar.
Ele não sabe cozinhar e ela, moça prendada vive entre panelas. Gostam de chá no inverno e no verão ele adora iogurte e ela aprendeu a gostar.

É para esses amigos enluarados que dedico essa receita fácil e deliciosa, dessa vez é capaz dele se animar e ir  para a cozinha se aventurar, ainda não com as panelas, mas usando o ingrediente que mais gosta.


Lassi de Manga

Ingredientes:

1 xícara de manga picada
1 1/2 colheres sopa de açúcar (usei mel)
1 1/2 xícara de iogurte natural  (na receita original era o grego)
1/2 xícara de leite desnatado (usei a mesma medida do iogurte de água)
Uma pitada de cardamomo (opcional)
Música para acompanhar o lassi: Tears for Fears
                                                         Everybody Wants To Rule The World






sexta-feira, 2 de julho de 2010

Morango e Chocolate: Concurso Pedro Octávio



Postei essa receita há algum tempo aqui no blog e como é tempo de morangos novamente resolvi que essa seria minha participação no Concurso Pedro Octávio promovido pela Luísa Alexandra (esse também é o nome do meu filho que fez anos em maio).
A foto não está das melhores porque naépoca meu filho ainda não tinha a câmera que só ganhou no Natal (tem recurso especial para culinária) e fiz com uma emprestada

Ao longo das minhas experiências culinárias vou descobrindo a cada dia que menos é mais.
Minha mãe touxe uma caixa de morangos, fora de época, e resolvi fazer uma sobremesa gostosa e simples, não muito calórica.
Pensei em várias alternativas e saiu a que segue, não é torta,tarte,charlotte,bavaroise,pavê. É um pouquinho de cada uma dessas ou seja uma invencionice que agradou aqui em casa.
Vou chamar de sobremesa quase light de morangos.


Sobremesa quase light de morangos

1 pacote de gelatina diet sabor morango
300 g de creme de leite (natas) bem espesso
300g de morangos
1 pacote de biscoitos de maizena (usei o light que tem menos gordura e é mais crocante) moído no liquidificador
2 colheres de sopa de chocolate em pó (usei o Nestlé com 50% de cacau)
2 colheres de sopa de vinho do Porto

Forrei um pirex com o biscoito moído (inclusive as laterais). Dissolvi a gelatina em 250 ml de água quente e bati no liquidificador com quase todo o creme de leite (reservei umas 3 colheres de sopa para a calda de chocolate).Enchi o pirex com a mistura de gelatina e creme de leite. Levei a gelar até estar firme.
Cortei os morangos ao meio no sentido do comprimento e arrumei sobre o creme.Fiz uma mistura do chocolate com o resto do creme e o vinho do porto.Deitei a calda levemente sobre os morangos e deixei gelar mais.
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